Anmo é uma cidade onde ninguém adentra sem ser percebido. Para se atingir a ela não há caminho ou placas. Portões do nada guardam sua entrada. Suas ruas parecem granitos torrados ao fogo, suas casas serpenteiam infinitamente e se cruzam labirinticamente fazendo–se necessário um cicerone. As árvores se erguem diante da magnitude do nada e crescem na plena certeza que nada irá detê-las. Pedrarias, areal, cactáceos se confundem em imensa e intocável beleza. Suas praças em suspensão fotomagnética cansam e ardem os olhos daqueles que por ignorância nada entende do fototropismo.
Os íncolas de Anmo sabedores da excelência e unicidade de sua arquiponente e inexeqüível arquitetura vivem em eterna patuscada. Dormem tranqüilos e acordam ao som do nada, som doce, no compasso cadente e intempestivo que atingem e ensurdecem os ouvidos intrusos. Acordar em Anmo é inexplicavelmente prazeroso. Levantar e avistar o nada mais além, passear em suas montanhas nadescas e ir ao Nadahá e entrar no folguedo maravilhoso, dançar ao som do batuque de tambores entalhados na própria essência de ser um Anmonadense.
O final da tarde é esplendoroso. Subir através de um caminho de puro fulgor até o mais alto cume, assentar em lugares que parecem não existir e assistir a sublime e bela cena jamais imaginada por homens triviais. Encontrar o prazer de ser não apenas diferente, mas de não encontrar alguém igual. Todos com um só devaneio – a linha inalcançável do horizonte. É ali que visitantes indesejáveis vêem o segundo portão da nossa urbe...
Isolda Barbosa Gaspar de Souza